Fala, Fernando

Fernando Aranha no 1º treino na neve (Reprodução/Facebook)

Como de praxe, segue a transcrição da entrevista por e-mail com o atleta Fernando Aranha. Solícito, ele pediu desculpas por uma eventual demora porque, vejam só, estava se preparando para a disputa da São Silvestre. Quem sou eu para atrapalhar a preparação de um atleta de alto rendimento, não é mesmo?

Blog - Fernando, como você avalia sua estreia em competições oficiais no esporte paralímpico de inverno?
Fernando - De forma bastante otimista e promissora. O esporte é muito exigente, tanto na prática em si, como no ambiente de prática. E apesar do pouquissimo tempo de contato, acho que me saí bem e acima de tudo vejo condição real de melhora significativa para competir.
 
Desde quando pratica endurance? Como foi a adaptação para o cross country?
Comecei minhas participações em endurance no fim de 1999, na minha 1ª participação na São Silvestre. Antes disso praticava basquete. Passei a fazer maratonas, ciclismo e consequentemente o triathlon como participação em 2009. A adaptação está em curso ainda, pois tenho muito o que me adaptar com relação a especificidade do cross country, pesquisar por equipamento e estudar a biomecânica.
 
Como surgiu a ideia de praticar um esporte de inverno? 
Inicialmente foi ao acaso. Eu procurava alternativas para desenvolver minha técnica de natação voltada para o triathlon. Acabei encontrando o atleta Leandro Ribela na USP onde treino e perguntei sobre os "poles" que ele usava com o rolerski. E também ao acaso alguns meses antes conversei com o Fernando Fernandes, em virtude de uma materia que ele iria fazer ainda sobre o Ski Alpino, sobre o Cross country ser uma modalidade que talvez eu pudesse praticar por aparentemente ser "mais proximo" do Triathlon com relação ao endurance. E essas açoes acabaram se juntando quando a Dra Lia Steinberg tomou uma iniciativa de juntar os interessados para o desenvolvimento de esportes de inverno paralimpicos no Brasil. E meu nome acabou sendo cogitado para a empreitada. Apenas aproveitei a oportunidade, que a meus olhos é única e honrosa. 
 
O que é mais difícil: ter que se adaptar ao esporte ou ao clima extremamente frio?
O Esporte em si não tive problemas com a adaptação. Me falta a base de ser um esquiador, é verdade. Mas com treinamento especifico e dedicação imagino ser possivel evoluir.
O clima extremamente frio realmente é um fator importantissimo que temos de adaptar. Eu nunca tinha sentido algumas das dores que senti lá. Mãos gelam, pés gelam, tornozelos gelam, tudo gela. Gela e dói muito.Uma coisa que senti muita falta foi de luz de sol. Lá tudo escurece muito rápido, sem pessoas na rua, o que me causou uma sensação ruim de solidão.
 
Como foram os primeiros dez dias com a equipe brasileira na Suécia? Você já conhecia o cross country antes?
Nos primeiros dias com a equipe brasileira foi bem tranquilo e confortante saber que eles estavam por ali e poderiam me auxiliar em algum perrengue.
Conhecia o Leandro Ribela de Sao Paulo já e tive o prazer em conhecer os atletas Fabrizio Bourguignon e Mirlene Picin do biathlon, que são atletas muito dedicados atrás do sonho olimpico. Achei minha inspiração nessa equipe. Logo chegou o Aldo Henrique Ramos, uma enciclopédia em esportes de neve.
Eu geralmente sou bastante atento com relação a esportes, não só os naturalmente praticados no Brasil, por isso já tinha visto algo sobre e por isso via alguma semelhança pelo endurance com o triathlon. Mas nada muito a fundo. Aí chego em um pais onde é o esporte nacional. Descobri que não sabia nada.
 
Muitos atletas do Cross Country também disputam o Biatlo. Pretende, um dia, começar a treinar o biatlo também?
Sim, é uma ideia que cogito. Mas no momento prefiro focar na base do Cross Country. Sei que teria muito mais dificuldade em praticar o biathlon no Brasil, pelo poucos estandes de tiro disponíveis e nenhum que eu conheça voltado ao biathlon. Além de ter de lidar com porte de armas e as responsabilidades associadas. Imagino que seja uma modalidade "mais fácil" sendo militar.
 
Em matéria do Globoesporte.com diz que seu objetivo principal são os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Cogita também participar em Sochi e/ou em outras Paralímpiadas de Inverno? 
Está correto. Hoje meu objetivo real é Rio 2016 pelo triathlon e até mesmo pelo ciclismo. Mas vi uma oportunidade de representar meu país em uma Olimpíada antecipada. E pelos calendários desses esportes vislumbro poder conciliar sim as modalidades e até mesmo uni-las, já que no triathlon de inverno o cross country substitui a natação.Mesmo ainda nao tendo registro de minha categoria tendo participado na modalidade.
 
Caso cogita, qual o planejamento para conseguir a vaga paralímpica em tão pouco tempo?
Eu não nego que é pouquissimo tempo e que por conta disso vou contar muito com a sorte. Até o momento tenho em meu planejamento participar de uma próxima etapa da World Cup na Suécia em fevereiro, mas desta vez com um um pouco mais de treinamento especifico. A ideia é passar pelo menos duas semanas anteriores do evento com os técnicos na Suécia e estou forçando aqui no Brasil minha condição física pra ter de lidar com o específico do esporte. E fazer o possível e impossivel para entrar na zona de pontuação. 

Após os Jogos de 2014, pretende continuar com o treinamento no cross country adaptado?
Pretendo sim. Pretendo inclusive que este esporte entre definitivamente em minha grade de treinos e competição, sem perder o foco no triathlon, pois é um esporte de dificuldade extrema que demanda muito empenho em aptidões que até entao eu negligenciava nos esportes que pratico. Eu gostei mesmo do esporte, mas pra me dedicar exclusivamente a ele precisaria de condições que nosso país não propicia, o Inverno. Partindo desse ponto sera difícil manter enquanto modalidade esportiva de rendimento. Mas as técnicas utilizadas e intensidade pretendo que façam parte de minha rotina.

Você acredita que a iniciativa sua (ao lado de Fernando Fernandes e André Cintra) pode trazer mais atletas brasileiros para o esporte paralímpico de inverno? 
Acredito que sim. Essa iniciativa que na verdade nao é só nossa, dos atletas, e sim de um monte de entusiastas que por uma força resolveram se manifestar. Eu me sinto só a ponta da lança, srrsrsrs
Acredito que sim, por minhas andanças encontro outros atletas de outras modalidades que vem me perguntar sobre esportes de neve e as possibilidades de esportes para a prática. Aí percebi que ainda não temos informação sobre esses esportes, seja cross country, alpino ou ate mesmo curling.
E percebi tambem que atleta tem sonho de ser atleta olímpico e representar seu país, seja em Olimpíada de verão ou de inverno. E muitos dos que me procuram vem com a intenção de achar seu espaço em outras modalidades.
E esporte de inverno... por nao ser daqui, ainda, traz uma curiosidade ao encontro dos brasileiros e recomendo a todos experimentarem ao menos uma vez na vida qualquer que seja o esporte de inverno e correr o risco de se encantar. 
É desafiador, é bonito, charmoso, divertido, é doido. É muito bom

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