Vozes de Sochi - Fernando Aranha (Cross Country adaptado)

Fernando Aranha recebe seu troféu (Renato Leite Ribeiro/CBDN)

Fernando Aranha não para. Participa de provas de ciclismo e triatlo paralímpico. Ganhou provas, rodou o Brasil e colecionou lembranças. Um fôlego impressionante, realmente. 

Mas é pouco. No segundo semestre de 2012 veio o convite mais desafiador em sua carreira esportiva: ele seria o representante do Brasil no Cross Country adaptado e tentaria uma vaga já para as Paralímpiadas de Sochi, em março de 2014. 

Neve, frio e uma prova que ele mesmo admitiu depois estar "acima do que ele via em suas provas de resistência". Mesmo assim, não titubeou. E está muito próximo de fazer história no esporte paralímpico brasileiro. 

Super-Homem

A escolha de Fernando Aranha para representar o Brasil no Cross Country adaptado foi cirúrgica. Somente ele conseguiria aguentar uma prova tão estafante como essa. Da mesma forma que na modalidade "convencional", no programa paralímpico é a mais exigente também. Uma verdadeira maratona. 

Era o perfil perfeito. Atleta de longa data, praticante de provas de ciclismo, ele almejava uma vaga nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Mas o Comitê Paralímpico Brasileiro resolveu encurtar esse sonho, através de um "atalho" muito mais cansativo.

"É realmente uma gelada. Foi uma fria. Os esportes que eu tenho praticado de resistência se você não estiver aguentando, você para e ele não te faz sofrer mais. Na neve é o contrário. Você tem que manter uma intensidade muito grande. Acima de tudo o que eu estava fazendo até então. Se você diminui, te quebra e te joga mais para baixo. Não tem tempo de descanso. É fantástico", comentou. 

Realmente a neve o empolgou. Ficou duas vezes na Suécia, em períodos de treinamento. Na primeira vez, em novembro, fez treinos e disputou uma prova do circuito internacional - foi o primeiro brasileiro a disputar uma prova paralímpica de inverno. Depois, em fevereiro, retornou ao país escandinavo para mais treinos e outra prova. 

"Foi uma experiência muito legal. Fico até sem palavras porque é difícil de descrever. O esporte é muito intenso. O cross country é um pouco a mais do que eu achava em relação às dificuldades que os outros esportes demandam do atleta. Você tem que praticar muito, tem que sentir o ambiente. É treinar muito e correr atrás", garantiu.

Ele correu e por muito pouco não conseguiu o objetivo logo de cara. Na primeira prova, fez 186 pontos. Na segunda, 185. O índice olímpico nos Jogos Paralímpicos de Sochi é no máximo 180 (como se sabe, no esqui quanto menos pontos o atleta tiver, melhor). Ou seja, míseros cinco pontos o separam da classificação à Rússia. 

"Com relação ao resultado final realmente me surpreendeu. Por mais que eu tivesse consciência do meu corpo, de treinar regularmente, é uma coisa que eu nunca tinha participado e sei que a neve não é uma coisa nossa. Não é algo tão fácil de se adaptar". 

Só se sentiu atleta paralímpico de inverno quando esteve na Suécia, treinando com Anna Marie (técnica da seleção brasileira) e pôde compartilhar a mesma pista com os atletas de inverno. Se não se adaptou ainda com o clima, utilizou do seu fôlego de super-homem para diminuir a diferença com os rivais. 

A partir de outubro, ele volta a se dedicar exclusivamente à neve. O objetivo é simples: garantir os 180 pontos e carimbar o passaporte para sua primeira Paralímpiada. Fernando, porém, admite: quer ir além de só participar dos Jogos.

"Eu quero muito estar na Olimpíada. Eu vou estar na Paralímpiada, tenho certeza disso. Minha meta é que eu consiga fazer meu melhor tempo para me igualar e chegar perto dos melhores do mundo. Gostaria não só de ir para a Paralímpiada, mas de poder participar num nível competitivo bom, tanto quanto os melhores atletas do mundo. Queria poder dizer de pegar uma medalha, mas ficaria muito feliz de estar entre os 10 melhores do mundo". 

E assim, fazendo história, abrir caminho para mais e mais atletas paralímpicos nos esportes de inverno. "Tenho sido muito sortudo com o que tem acontecido porque eles tem me dado esse respaldo. Hoje sou eu, mas pode ser qualquer outro atleta que estaríamos aplaudindo também".

Talvez abra caminho até mesmo para ele próprio. Apesar de ainda pensar nos Jogos de Verão no Rio de Janeiro, Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, já deu a dica: quer que Fernando Aranha se dedique exclusivamente ao Cross Country. Afinal de contas, super-homem não sente frio.

Confira entrevista do Fernando Aranha ao Blog Brasil Zero Grau:

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