Riscos e coragem

Lais Souza (Renato L. Ribeiro/CBDN)
Olhando de longe, bem de longe, até parece fácil. Elas descem de uma rampa, fazem um duplo mortal com esquis e caem numa piscina. Mas não. Aquela rampa ainda tira o sono e a calma até de uma atleta experiente como Lais Souza. 

A ginasta, ao lado de Josi Santos, segue treinamento em São Roque num planejamento ousado da CBDN (Confederação Brasileira de Desporto na Neve): em seis meses elas não só conheceram o esqui aerials, como ainda tentarão uma vaga olímpica já em Sochi, em fevereiro de 2014. 

O treinamento em São Roque, lugar escolhido pela entidade para fazer seu CT Freestyle, é a penúltima etapa do planejamento traçado pelo técnico Ryan Snow, medalha de prata com a equipe norte-americana em 2010 e contratado justamente para desenvolver essa modalidade. 

Foram dois training camps nos EUA e Canadá entre julho e setembro. Agora um período no Brasil e, no início de novembro, nova viagem, mas desta vez para encerrar a preparação. É aí que tanto Lais quanto a Josi terão o contato com a neve e farão seus primeiros saltos neste ambiente. 

Mas não é isso o principal medo, por assim dizer, de ambas. A temível rampa ainda intimida. "A rampa ainda dá muito medo. Agora estou bem melhor, mas não pode perder a atenção nunca. Tem que estar sempre ligada para que não aconteça nada. A chance de machucar é grande", afirmou Lais por telefone ao Brasil Zero Grau. 

Até porque, apesar da experiência de dois Jogos Olímpicos de Verão no currículo, Lais Souza não passa de uma novata neste esporte (ela riu quando fiz essa pergunta e por um momento pensei ter sido indelicado, mas concordou). Todo cuidado é pouco e a concentração tem que ficar redobrada para aprender os complexos movimentos do esqui aerials. 

Concentração (Renato L. Ribeiro/CBDN)
Após executar o primeiro duplo mortal em outubro, elas vão treinar os saltos no país e quando embarcarem para o hemisfério norte tentarão melhorar a chegada. "Chegar surfando", como disse a própria Lais. 

"É muito diferente. Você desce e continua esquiando. Aí tem o medo, a velocidade, a altura... É a fase de decisão para ver como vou competir. Mas estou gostando bastante. É uma experiência nova". 

Quando embarcarem provavelmente para a Finlândia a fim de terem este contato com a neve, Lais e Josi saberão que só retornam para o Brasil após o período de classificação olímpica, com a vaga histórica garantida, ou não. 

Será pouco mais de um mês treinando na neve antes do início da temporada no esqui livre. O esqui aerials feminino terá cinco etapas da Copa do Mundo até 19 de janeiro, a data limite para pontuar e garantir a vaga em Sochi: serão duas etapas na China (dias 15 e 21 de dezembro), duas nos EUA (10 e 18 de janeiro) e uma no Canadá (14 de janeiro).

Pouco tempo de preparação? Talvez. "Estou preparando a minha cabeça para isso. Chegar nas competições e não ter dúvida do que fazer. Foi pouco tempo de treinamento, apenas um fase na neve, isso ainda me deixa um pouco tonta. Mas continuo com os mesmos objetivos do início", afirmou. 

E é aí que ela e a Josi tentarão tirar proveito de todas as dicas dadas pelos esquiadores profissionais que também participaram dos training camps nos EUA e Canadá. "O que eu acho legal é que a turma do esqui é muito unida. O que precisamos são esses toques mesmo. Está bem engraçado. A gente tem eles como exemplo e vai tudo depender da nossa superação para conseguir essa vaga". 
 
E se elas se superarem, mantiverem essa evolução e perderem o medo da altura da rampa tudo indica que uma das vagas deva ficar com o Brasil. Lembrando que o esqui aerials feminino conta com duas vagas abertas para Sochi justamente pela falta de competidoras. Ainda são poucas as mulheres que desafiam o medo daquela rampa.

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