Prêmio Brasil Olímpico em dez atos

Primeiro quero agradecer ao serviço de comunicação do COB. Sem eles, que deram uma credencial para este humilde jornalista dono de um blog, não teríamos esse e muitos outros posts que virão (matérias boas, meus amigos).

Esta análise pretende contar um pouco dos bastidores do evento, trazer aquilo que você dificilmente encontrará por aí. Até porque houve cobertura ao vivo da Sportv, presença maciça das televisões, rádios e portais. É o que me resta fazer para ser diferente.

Ah, a matéria com a Isadora vem depois, claro. O foco deste blog é os brasileiros nos esportes de inverno e, claro, terá um post exclusivo para isso. Vamos em frente.

Poliana Okimoto, ministro Aldo e Jorge Zarif (William Lucas/Inovafoto/COB)

Ato 1: Pontualidade. Até eu me surpreendi. O coquetel começou literalmente às 19h e a cerimônia teve um ligeiro atraso de cinco minutos. Nada que atrapalhasse o espetáculo. E foi bom para criar aquele clima de suspense que toda premiação pede.

Ato 2: Pressão. "Pódio, pódio, pódio". Onde quer que você andava, geralmente ouviria alguma frase com essa palavra. Após ter o melhor ano pós olímpico da história (26 medalhas em Mundiais e uma quase garantida, no handebol), era inevitável fazer projeções para 2016. É inegável que há uma pressão para que o Brasil consiga um número maior de medalhas após tanto investimento.

Ato 3: Dinheiro. Por falar em investimento, sobraram perguntas sobre o atraso de pagamento do Bolsa-Atleta para os atletas. O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, e o secretário Ricardo Leyser tiveram que dar algumas explicações. Até atletas famosos e que nem solicitaram a bolsa tiveram que responder sobre isso.

Ato 4: Anonimato. E é incrível como nossa imprensa esportiva se baseia apenas em atletas famosos. Arthur Zanetti, agora ícone nacional, mobilizou todos os profissionais presentes. Mas não é brincadeira: três pessoas perguntaram para mim quem era que estava sendo entrevistado por uma rodinha de repórteres. Nada mais, nada menos do que Jorge Zarif, o grande premiado da noite!

Ato 5: Solidão. Sou meio crítico mesmo com minha profissão (pelo menos uma parte dela, que fique bem claro). Além de não conhecerem a maioria dos atletas, ainda buscam as mesmas pautas. A jovem Gabriela Cechini, da esgrima, deu poucas entrevistas. Tudo girava em torno do eixo Rio 2016-dinheiro-medalhas, não necessariamente nessa ordem. Como se fosse fácil transformar um atleta campeão.

Ato 6: Emoção. Um dos momentos mais emocionantes, na minha opinião, foi a fala de Torben Grael. Usando de sutis metáforas, conseguiu agradecer e ao mesmo traçar um paralelo na sua vitoriosa carreira. Agradeceu aos amigos de faculdades, que o criticavam falando que ia "viver de vento. E de certa forma acertaram". Ou ainda quando falou de Adhemar Ferreira da Silva, o nome do troféu que conquistou ontem. "Ele era o meu farol". 

Ato 7: Homenagens. Achei rápida a homenagem aos brasileiros que disputaram os Jogos Pan-Americanos de 1963. Nomes como Maria Esther Bueno, que aliás foi quem discursou em nome deles, mereciam um espaço maior. 

Ato 8: Ausências. Até por conta do tempo, também lamentei que os nomes dos atletas que não puderam comparecer para receber o troféu sequer foram citados na transmissão oficial. Entre esses nomes estavam o de Isabel Clark, melhor atleta de esportes de neve e que está na temporada norte-americana. E também o de  Alexandra Nascimento, melhor do mundo no handebol e que está com a seleção na disputa do Mundial. Apenas a ausência de José Roberto Guimarães foi comentado - ele receberia o troféu de melhor técnico em esportes individuais. 

Ato 9: Justiça. Era realmente impossível que Poliana Okimoto não ficasse com o Prêmio Brasil Olímpico entre as mulheres. Dona de três medalhas no Mundial de Maratonas Aquáticas, foi eleita a melhor do mundo em águas abertas. Temporada fantástica que já a coloca entre os grandes nomes dos nadadores brasileiros. 

Ato 10: Zebra. Não sei se só eu percebi ou se é coisa da minha cabeça, mas acho que teve um segundo de silêncio depois que Jorge Zarif foi anunciado como vencedor entre os homens. Não que a temporada não merecesse (título mundial júnior e adulto na classe Finn, da vela), mas ele competia com Arthur Zanetti, campeão mundial e olímpico, e César Cielo, tricampeão mundial. "Estou tão surpreso quanto vocês", comentou, na sua primeira frase como melhor atleta do país no ano. E a fala dele mostra a simplicidade e a dedicação do jovem. Elogiou Torben Grael e Robert Scheidt (ainda se disse sortudo, pelo Mundial da classe Laser ter sido no fim de ano, "senão era o Robertão que estaria aqui no meu lugar"). Contou uma bela passagem com Bruno Prada, seu "rival" na Finn, mas que se mostrou um grande amigo. E não deixa de ser sintomático que ele, sem qualquer ajuda federal, recebesse o troféu do ministro Aldo Rebelo. 

Aliás, fica aqui o registro da premiação. Apesar da temporada histórica e dos altos investimentos, considero que ainda estamos longe de sermos potência olímpica, de fato. O próprio Jorge Zarif, campeão mundial da Finn, comentou que não dá pra viver da vela, ainda! Um campeão mundial!

O técnico Marcos Goto também deu uma alfineta em seu discurso: "neste ano o COB nos ajudou e nos passou os equipamentos necessários para fazermos os treinos". E quem tem memória sabe que isso aconteceu após Arthur Zanetti cogitar competir por outro país. 


Uma discrepância que precisa ser diminuída nos próximos três anos. Se falhamos em adotar políticas públicas de esportes muitos anos atrás, que não deixemos passar esses próximos três anos. Serão férteis para todas as modalidades, inclusive as de inverno.

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