Os brasileiros em busca de seus sonhos (Paul Gilham/Getty Images) |
Não vi a Cerimônia de Abertura. Era bem no meu horário de trabalho, a conexão com a Internet tinha caído e não possuo celular multifuncional. Não consegui nem ver comentários, os detalhes, a festa, a emoção, o orgulho e as polêmicas, claro. Soube que tiveram algumas falhas. Acontece, claro, mas que deveria ser evitado quando se gasta tanto (abra o olho daqui dois anos, Brasil).
Para compensar isso, pensei em fazer um mosaico de fotos e vídeos dos atletas brasileiros nas redes sociais. Já que não vi a festa para falar da emoção, pensei que seria uma boa mostrá-la através das imagens. Mas com regras dúbias referentes ao uso das redes sociais, desisti. Não quero prejudicar ninguém.
Poderia falar que cerimônias de aberturas são sempre iguais, que Jogos de Inverno não tem tanto apelo assim e que o Olimpismo não existe mais. Argumentos assim você encontra aqui e ali. Não precisa procurar tanto e certamente aqui você não irá encontrar.
Isso não explicaria o fascínio que cerimônias de abertura e Jogos Olímpicos causam em mim e em tantos outros. Conversei tempos atrás com Regys Silva, do Surto Olímpico, e ambos não aguentavam mais de ansiedade. E olhe que nem um e nem outro embarcou para Sochi para justificar tanta vontade!
Mesmo vivendo numa época com ídolos de barro, que desmoronam com facilidade, e sem espaço para amadores (no sentido de que amam o que faz), as Olimpíadas ainda são a chance de encontrarmos exemplos de superação, luta, beleza e amadorismo. Resultados são importantes, claro, mas queremos ver sempre o algo a mais, o inexplicável e inacreditável.
E aí tenho que citar os 13 brasileiros em Sochi. De quatro em quatro anos eles precisam conviver com alguns questionamentos do tipo: "Ah, mas nem temos neve aqui", "Só no Brasil que se investe dinheiro para passar vergonha" e "Nem sabia que tinha isso aqui". Falamos com a certeza de um especialista no assunto, mas mal sabemos a diferença entre gelo e neve. Julgamos com o rigor de uma autoridade, mas nem levantamos o corpo do sofá para fazer algum exercício físico.
Esses brasileiros que estão lá buscam sonhos e não resultados. Eles abdicaram de família, amigos, dinheiro e tempo. Sofreram com o clima, com a saudade, com a falta de equipamento e com as próprias limitações. Eles sabem que não brigarão por medalha e que, se tiverem sorte, ficarão na metade de cima da classificação.
O que vale, para eles, é a busca da felicidade. E não entendemos porque justamente não estamos acostumados com isso. Atrelamos a felicidade ao resultado quando, na verdade, deveria ser o contrário. O Olimpismo é isso, lembram? O importante não é vencer, é competir.
São 13 diferentes sonhos que se cruzam e ficam cada vez mais fortes. Não tem como não se emocionar com Isadora Williams, que sempre quis competir pelo Brasil e que sorria toda vez que via a bandeira durante o desfile da delegação. Ou ainda com a alegria e união do time de Bobsled: Fabiana, Sally, Larissa, Edson Bindilatti, Edson Martins, Daividson de Souza, Fábio Gonçalves e Odirlei Pessoni se descobriram como uma verdadeira família nos cinco meses de convivência.
A emoção também é grande com a dedicação de Jaqueline Mourão, nossa porta-bandeira com suas cinco participações olímpicas; o exemplo de Leandro Ribela, que compete por ele e pelos garotos do Projeto Ski na Rua; a correria de Jhonatan Longhi em se recuperar de lesão a tempo; a alegria de Maya Harrisson, que a fez pegar o avião e ir à Sochi apenas para desfilar com as cores do Brasil; a força de Josi Santos, que mesmo abalada psicologicamente resolveu competir para homenagear Lais Souza; e o empenho de Isabel Clark, atleta reconhecida no mundo inteiro.
Independente do que acontecer e dos resultados que eles conquistarem, os próximos 15 dias serão intensos, únicos e indescritíveis. Que façamos desses exemplos um símbolo da luta por nossos sonhos. Afinal de contas, eles nos mostram que tudo é possível. Que comecem os Jogos de Sochi!
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