Copa Brasil de Curling

Raphael, com a pedra, Aline e Marcelo: pioneiros (Arquivo Pessoal)

Seriam oito duplas, mas ficaram seis. Por conta disso, o sistema de grupos foi descartado e as seis equipes jogarão entre si, no formato já consagrado em Jogos Olímpicos e Mundial. São problemas que acontecem até com competições já estabelecidas. E nada disso abala a confiança de todos os adeptos do curling: neste sábado começará a primeira edição da Copa Brasil de Curling. 

O evento será em North Vancouver, no Canadá (porque aqui não há pista, que fique bem claro). São duas rodadas neste sábado e duas no domingo. A quinta e última rodada será no próximo sábado, dia 24, com as finais no domingo. Os quatro melhores da primeira fase avançam para a semifinal, em jogo único. Os vencedores decidem o título.

A tabela completa e a formação das duplas pode ser vista aqui. A primeira rodada será às 13h (horário de Brasília), com os seguintes jogos ocorrendo simultaneamente. Alessandra/Raphael x Simone/André na pista A; Luciana/Samuel x Anne/Matthew na B; e Sarah/Danubio x Isis/Márcio. 

Porém, além da realização do primeiro torneio oficial do curling brasileiro, outras coisas estão em jogo: desenvolvimento da modalidade, reconhecimento, busca por patrocinadores... Por conta disso, entrevistei Raphael Monticello, atleta e um dos articuladores da Associação Brasileira de Curling.


Curling para todos!

Em 2010 e em 2014 o curling foi uma das sensações de audiência dos Jogos Olímpicos de Inverno no Brasil. Diferente de tudo aquilo que o brasileiro já viu, a modalidade encantou pela curiosidade, estratégia e até mesmo emoção, com muitas partidas definidas na última pedra. Mas como converter esse interesse em desenvolvimento para o esporte?

"Eu tenho plena ciência de que o curling no Brasil pode e vai ser um esporte de prática massificada. Ao contrário do que muita gente pensa, não é difícil construir e manter um clube no país. Arena de Curling é em um ambiente fechado, não precisa necessariamente ser feito em local frio. Até no Ceará, minha terra natal, é possível", diverte-se Raphael. 

Ele se baseia em números: além dos Jogos Olímpicos de Inverno, o Brasil é o quarto país que mais acessa o site da Federação Internacional de Curling. A audiência registrada em partidas nos Mundiais e Jogos Olímpicos é maior do que nos EUA, país presente em todos os Mundiais e com 13 mil jogadores registrados. 

Dados que reforçam algo que o próprio Raphael Monticello sentiu em 2011: o curling é viciante. Começou no esporte neste mesmo ano, logo após ter se mudado para o Canadá. Por três anos praticou apenas por diversão, jogando com canadenses em ligas menores e sem encontrar qualquer conterrâneo na costa oeste do país norte-americano.

Mas na última temporada ele se mobilizou atrás de brasileiros. "Decidi ser mais 'agressivo' e comecei a postar em grupos de Facebook procurando qualquer um interessado. Assim apareceram os primeiros", comentou. 

E o número foi crescendo, crescendo, crescendo.... Hoje são 19 atletas brasileiros fixos que treinam aos sábados e domingos e participam de competições de ligas e até mesmo de torneios oficiais, chamados de "bonspiels". 

Com tanto crescimento era natural que o grupo constituísse uma associação. Criada nesta temporada, ela já conseguiu atrair holofotes, principalmente com a disputa do Mundial de Duplas Mistas, quando Marcelo Mello e Aline Gonçalves representaram o país pela primeira em um torneio internacional de curling. 

Mas foram além. Para encerrar a temporada, resolveram organizar a Copa Brasil de Curling. É o primeiro evento do tipo com atletas brasileiros e que dá o pontapé inicial para um calendário completo com treinos e eventos para os competidores. "A ideia não surgiu agora. Ela surgiu meses atrás. Queríamos uma competição nacional que marcasse o fim da temporada, fazendo com que os atletas continuem treinando com foco até a última gota de gelo disponível", reafirmou.

Conseguiu o aval da CBDG, que dá o caráter oficial do torneio, e ainda achou um patrocinador! A empresa canadense UvanU, de intercâmbio de estudantes, se entusiasmaram com a ideia e ofereceram apoio financeiro ao belo projeto.

A meta, agora, é manter o desenvolvimento. Além da criação de uma seleção fixa masculina e feminina e do calendário de competições, o principal foco da Associação é o desenvolvimento internacional. No continente americano apenas o Brasil, Canadá e EUA possuem equipes de curling. No entendimento dos atletas, é preciso fortalecer o esporte no Cone Sul.

Eles já contactaram argentinos e mexicanos e eles já deram um primeiro passo, criando entidades nacionais e aguardando aprovação da WCF (Federação Internacional de Curling). "Começamos contato com todos os latino-americanos mundo afora, assim como também os ibero-europeus (Portugal e Espanha). O resultado foi que hoje mapeamos vários jogadores de outros países e estamos começando a planejar em conjunto a criação desses campeonatos", prossegue Raphael. Para isso, pedirão ajuda da Federação Internacional, para validar os torneios. 

Depois, há a proposta de criação de equipes profissionais (independentemente se estão, ou não, na seleção) e a construção de uma arena em solo brasileiro. Nisto o país já está avançado: de acordo com a CBDG, a WCF está disposta a liberar dinheiro para ajudar na construção. Resta a entidade encontrar um local adequado para o espaço. 

Até porque a Associação Brasileira de Curling já conseguiu outro importante passo para construir a pista de curling: um perito com certificação internacional. Um brasileiro conseguiu o reconhecimento da CCA (confederação canadense) e está apto para ajudar na construção e manutenção da pista de gelo. "Se não existir este tipo de profissional no Brasil, em uma semana a pista fica impraticável. No curling a pista deve ser preparada antes de cada treino ou jogo".

Por enquanto são projetos. Mas depois de tudo o que conquistaram em tão pouco tempo, você acha que o curling não vai pegar no Brasil?


Treino com a elite

Para completar, no fim do mês Raphael irá participar de um training camp com os melhores atletas canadenses e sob coordenação de Elaine Dagg-Jackson, técnica da seleção canadense feminina campeã olímpica em Sochi. Além disso, a capitã Jennifer Jones também estará presente. Ele será o único brasileiro e tenho certeza de que aproveitará bastante.

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