Lendas do Inverno (especial América do Sul) - Dominique Ohaco

Dominique Ohaco (reprodução)

Oficialmente, a chilena Dominique Ohaco não foi a primeira atleta da América do Sul a conquistar medalha em uma etapa da Copa do Mundo de esportes de inverno. A honraria coube à Melanie Kraizel, também do Chile, que ganhou o bronze no Esqui Livre Big Air em "casa", no resort de El Colorado em 2016. Contudo, o feito de Ohaco é tão importante quanto o de sua compatriota. 

Ao conquistar o bronze na Copa do Mundo de Esqui Livre Big Air em Mönchengladbach, na Alemanha,  em 1º de dezembro de 2017, Dominique Ohaco foi a primeira sul-americana a subir no pódio na Europa em uma prova de elite dos esportes de inverno. Ela era a única atleta do continente na disputa e terminou na terceira colocação com 152.60 pontos na somatória de seus dois saltos. As suíças Giulia Tanno e Sarah Höfflin ficaram com ouro e prata, respectivamente. 

Com 22 anos recém-completados em 19 de dezembro, Dominique Ohaco começou a esquiar quando tinha dois anos e meio graças ao apoio da mãe. Esquiou com a família até os treze anos, quando acompanhou o irmão a um clube de esqui freestyle em Valle Nevado. "A partir daí fui melhorando sem pensar se chegaria a ser uma esquiadora profissional", comentou. 

Especializou-se em slopestyle, modalidade que fez sua estreia olímpica nos Jogos de 2014. Dominique esteve lá e foi a 13ª, uma posição abaixo da final. Na sequência, começou a cursar Design na faculdade e pensou em abandonar a carreira de esquiadora. Resolveu encarar sua vida esportiva prova a prova, intercalando o slopestyle com o Big Air, categoria mais recente, ainda não-olímpica e que entrou para o circuito da Copa do Mundo apenas em 2016. 

Prestes a garantir classificação aos Jogos Olímpicos de PyeongChang, com chances reais de terminar entre as 12 melhores, Dominique Ohaco concedeu uma entrevista EXCLUSIVA ao Brasil Zero Grau e conta mais detalhes sobre sua carreira, o bronze histórico e os próximos passos. Confira: 

Dominique Ohaco (à direita) no pódio da Copa do Mundo de Esqui Livre Big Air em Mönchengladbach (Reprodução)

Como foi a disputa da Copa do Mundo Big Air na Alemanha? Esperava conquistar um pódio? Por quê?
A prova era os dois melhores saltos em três oportunidades. Consegui executar bem os meus truques e obtive boas pontuações. Meu objetivo era estar no pódio e sabia que teria que dar o melhor de mim para consegui-lo. Estou muito feliz de ter conseguido. 

Em temporadas anteriores você tinha um quarto e dois quintos lugares em etapas da Copa do Mundo de Esqui Livre. Fez alguma preparação específica nesta prova para obter sua primeira medalha? 
Esta temporada estou me preparando muito mais do que nos anos anteriores em minha carreira de esquiadora. Já tranquei a universidade por um ano e tive tempo de me dedicar 100% ao esqui,  ao treinamento físico e ao planejamento destes eventos. Estou mais focada do que nunca no esporte e muito motivada, o que é fundamental para minha evolução. 

O resultado chegou a surpreender você? Por quê?
Sim, me surpreendeu porque em cada evento há muitas competidoras com um grande nível e qualquer erro pode custar a classificação às finais ou o lugar no pódio. Assim, nunca se sabe como as coisas irão acabar e não depende apenas do seu desempenho, mas também dos outros competidores. Eu busquei fazer o melhor que podia e deu resultado.

Esse resultado é um dos melhores de um sul-americano em Copas do Mundo de esportes de inverno. Acredita que pode abrir portas para você e outros atletas do continente nas modalidades de inverno?
Sempre foi meu objetivo mostrar à América do Sul mais sobre este esporte. Não temos uma grande cultura de esqui como em outros países, mas temos as montanhas e a neve para chegar a ter atletas de alto nível. Com muito treino e determinação é possível chegar longe neste esporte. Espero poder transmitir isso às futuras gerações de esquiadores e que continue crescendo a quantidade de atletas representando a América do Sul.

O resultado conquistado na Alemanha é uma motivação para tentar surpreender no slopestyle durante os Jogos Olímpicos de PyeongChang?
Estou treinando muito para dar o meu melhor em PyeongChang. Conseguir esse resultado mostra a mim mesma como meu esforço está dando resultado e me motiva a seguir trabalhando para chegar preparado nos Jogos Olímpicos. 


Em 2014, com 18 anos, você ficou a uma posição da final do slopestyle nos Jogos Olímpicos. Quais são seus objetivos para os Jogos de 2018?
Gostaria de chegar à final já que da outra vez fiquei a uma posição da final. Se eu conseguir ir à final, já tenho mais possibilidade de obter um melhor resultado e superar minha participação em Sochi. [As 12 melhores atletas da classificatória avançam à final do Esqui Livre Slopestyle]

Depois dos Jogos de Sochi, você chegou a comentar que, talvez, não participaria de PyeongChang por conta dos estudos. O que mudou para você encarar um novo ciclo olímpico?
Naquela época eu consegui o meu objetivo principal de participar dos Jogos Olímpicos. Foi um processo longo e não tinha certeza do que ia acontecer com minha carreira de esquiadora. Continuei competindo e treinando, vivendo um dia após o outro e sem saber o que acontecer em quatro anos. Conforme o tempo foi passando, voltei a ter o objetivo de classificar aos Jogos Olímpicos e, dessa vez, estou mais focada e também tem muitas competidoras com o mesmo objetivo. Assim, preciso treinar mais para obter bons resultados e manter a motivação, que é o mais importante. 

Em Sochi você também comentou que não tinha muito apoio financeiro para treinar e competir. Essa situação melhorou nos últimos anos? Que apoio ou patrocinador você tem hoje?
A cada ano o esqui livre está crescendo. Em Sochi, o slopestyle era um esporte muito novo, a primeira vez em Jogos Olímpicos. Agora estamos recebendo mais apoio em nossos projetos. Para nossa equipe, o principal é o da federação de esqui e pessoalmente tenho um grande apoio com uma Bolsa de Esqui que me ajuda com meu equipamento, além do resort de Vale Nevado, onde aprendi e esquiei durante minha vida inteira, e também faço parte do Time Visa para PyeongChang, um dos principais patrocinadores dos Jogos Olímpicos, e tenho patrocínio da Smith Optics. 

Como está sua rotina de treinos hoje? 
Estou treinando na Suíça, onde começou a temporada, então me ajusto ao que o centro de esqui pode oferecer. Agora há uma área de salto e vários obstáculos. Nos saltos eu treino os truques que preciso melhorar ou truques novos para as próximas competições e nos obstáculos é a mesma coisa. Dependendo do progresso na temporada e dos truques que estão funcionando melhor, armo um plano para os eventos de Slopestyle e Big Air. 

Planeja competir em mais um ciclo olímpico após os Jogos Olímpicos de PyeongChang? 
Agora estou focada na minha classificação e participação em PyeongChang. Não sei o que vai acontecer daqui quatro anos, mas estou muito motivada com minha carreira de esquiadora. Espero seguir melhorando e evoluindo com o tempo. 

Dominique Ohaco foi porta-bandeira do Chile em 2014 (Reprodução)
Dominique Ohaco

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