Com três brasileiros, Jogos Paralímpicos começam em PyeongChang

Equipe brasileira dos Jogos Paralímpicos de PyeongChang (Daniel Basil/MPIX/CPB)

Aventura quatro anos atrás, trabalho consolidado agora em 2018. Os Jogos Paralímpicos de Inverno de PyeongChang começam nesta sexta-feira, 9 de março, com a delegação brasileira adquirindo um novo status no cenário internacional. A Cerimônia de Abertura começará às 8h (horário de Brasília) e a competição esportiva irá se estender até 18 de março.

O Brasil aumentou e qualificou sua equipe em relação à 2014. André Cintra permanece no Snowboard, mas agora com quatro temporadas disputando a Copa do Mundo - o suficiente para obter o índice tanto no cross quanto no banked slalom. No esqui cross-country, Fernando Aranha foi superado por Cristian Ribera, 15 anos, enquanto que Aline Rocha será a primeira mulher brasileira nos Jogos Paralímpicos de Inverno.

"É uma emoção enorme chegar aqui e ver que o sonho, finalmente, se realizou. Poder ser a primeira mulher brasileira a disputar os Jogos Paralímpicos de Inverno e estar em mais uma Paralimpíada me deixa muito feliz", comentou Aline Rocha, escolhida nesta quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, como porta-bandeira brasileira.

Mais do que o aumento na quantidade de atletas, o que motiva os atletas e dirigentes presentes em PyeongChang é a evolução na qualidade do desempenho esportivo. Em 2014, o Brasil chegou com dois atletas que sequer disputavam o circuito internacional regularmente. Agora, porém, é possível sonhar com voos mais altos.

Se a medalha ainda é um sonho improvável, imaginar um Top 10, principalmente nas provas de esqui cross-country, já é uma realidade bem plausível. Aline Rocha, por exemplo, já é figura constante entre as dez melhores da categoria sitting no esqui cross-country feminino. Cristian Ribera, por sua vez, chegou a ficar em quarto lugar na última etapa da Copa do Mundo da modalidade na categoria sitting (veja resultados abaixo).

Tanto que, além dos três representantes em PyeongChang, o Brasil teve mais dois competidores de esqui cross-country com índice para disputar os Jogos Paralímpicos de 2018: Fernando Aranha, na categoria sitting, e Thomaz Moraes, no standing. Contudo, o país conseguiu apenas uma cota masculina pelos critérios de classificação e dependia do convite do Comitê Paralímpico Internacional para levar mais atletas - o que não ocorreu.

Para conseguir os melhores resultados brasileiros nos Jogos Paralímpicos de Inverno, os três atletas contam com um apoio que envolve nove pessoas em PyeongChang: um chefe de missão, um attaché, um oficial administrativo, um coordenador médico, um fisioterapeutaa, um técnico de snowboard, um técnico de cera (essencial no preparo da prancha de snowboard) e dois técnicos de esqui cross-country.

No total, os Jogos Paralímpicos de Inverno de PyeongChang reunirão 567 atletas de 48 nações (incluindo os russos, que competirão como neutros). Além do esqui cross-country e do snowboard, fazem parte do programa neste ano o Biatlo, o Esqui Alpino, o Curling em cadeira de rodas e o hóquei de trenó. São 80 eventos de medalhas e o Brasil terá a companhia de mais três países latino-americanos: Argentina, Chile e México. A competição terá transmissão ao vivo pelo site do Comitê Paralímpico Internacional e seu Canal no Youtube

André Cintra competirá em sua segunda edição dos Jogos Paralímpicos de Inverno (Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Calendário do Brasil nos Jogos Paralímpicos de PyeongChang

  • 10/03 - 22h00 - Esqui Cross-Country masculino 15km sitting (Cristian Ribera)
  • 10/03 - 23h15 - Esqui Cross-Country feminino 12km sitting (Aline Rocha)
  • 11/03 - 23h12 - Snowboard Cross LL 1 masculino (André Cintra)
  • 13/03 - 22h00 - Esqui Cross-Country masculino Sprint sitting (Cristian Ribera)
  • 13/03 - 22h25 - Esqui Cross-Country feminino Sprint sitting (Aline Rocha)
  • 15/03 - 22h30 - Snowboard Banked Slalom masculino LL 1 (André Cintra)
  • 17/03 - 0h40 - Esqui Cross-Country masculino 7,5km sitting (Cristian Ribera)
  • 17/03 - 0h55 - Esqui Cross-Country feminino 5km sitting (Aline Rocha)
* Horário de Brasília

Resultados em reta final comprovam evolução brasileira

Mostrando uma evolução grande na neve, os brasileiros conquistaram alguns de seus melhores resultados justamente na última competição antes dos Jogos Paralímpicos de Inverno. A equipe de esqui cross-country, por exemplo, esteve presente na Copa do Mundo da modalidade em Vuokatti, na Finlândia, entre 6 e 9 de fevereiro de 2018. 

O desempenho mais impressionante foi de Cristian Ribera. Aos 15 anos, ele conquistou a melhor marca do país em uma competição paralímpica de inverno e, por muito pouco, não subiu ao pódio. No Sprint Livre, o brasileiro foi o quarto colocado com 2min07seg60. Nos 15km estilo clássico, foi o sétimo colocado com 53min35seg2 e 48.19 pontos. Por fim, nos 7,5km estilo livre, ele foi o sexto com 27min12seg9 e 74.01 pontos. 

Já Aline Rocha manteve-se no Top 10 nas três provas, curiosamente na oitava posição nas três provas realizadas. Nos 5km estilo livre, ela ficou na oitava posição com 22min29seg4 e 102.08 pontos. No sprint livre o desempenho foi melhor e conseguiu 86.03 pontos. Por fim, nos 12km estilo clássico, Aline completou o percurso com 53min41seg0 e 88.07 pontos. 

Outro brasileiro presente em Vuokati foi Thomaz Moraes, da categoria Standing do Esqui Cross-Country paralímpico. Seu melhor desempenho foi no Sprint livre ao terminar na 14ª posição com 2min59seg22 e 97.16 pontos. Nos 10km estilo livre, ele foi o 16º com 29min44seg7 e 142.03 pontos. Por fim, nos 20km estilo clássico, Thomaz foi o 13º com 1h13min50seg1 e 134.29 pontos. 

André Cintra, por sua vez, esteve presente na Copa do Mundo de Snowboard paralímpico em Big White, no Canadá, entre 5 e 8 de fevereiro. O brasileiro foi o 15º no Cross da categoria LL 1 (para amputados acima do joelho) e o 13º no Banked Slalom com o tempo de 2min47seg19.

Aline e Cristian, representantes do Brasil no Esqui cross-country (Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Conheça a equipe brasileira!


André Cintra, 38 anos, é o atleta mais experiente da equipe brasileira. Ele perdeu a perna em um acidente de moto - o que não o impediu de continuar praticando esportes radicais. Em 2010, ele começou a praticar o snowboard paralímpico e, em 2012, foi o responsável por iniciar o projeto paralímpico da CBDN. André foi o primeiro brasileiro a garantir índice para os Jogos Paralímpicos de Inverno em 2014 e esteve presente na competição ao lado de Fernando Aranha. Em 2015, após a criação da categoria LL1 (para amputados acima do joelho), conquistou a medalha de bronze em uma etapa da Copa do Mundo de Snowboard - ainda hoje o melhor resultado do país nas modalidades paralímpicas de inverno.

A grande diferença entre o André de 2014 e o de 2018 é a experiência. Nos últimos anos, adquiri muito mais rodagem nas provas, na neve, com a prótese, com a prancha. Integrei-me mais ao esporte Cheguei em PyeongChang diferente. Já conheço o ambiente, os atletas, sei como as coisas funcionam. Então, tudo isso ajuda a manter a calma e a ficar menos ansioso antes das provas



Aos 15 anos, Cristian é o atleta mais novo não só da equipe brasileira, como também dos Jogos Paralímpicos de PyeongChang. Ele nasceu com artrogripose, doença congênita das articulações das extremidades, e saiu de Rondônia para São Paulo em busca de tratamento. Conheceu o esqui cross-country apenas em 2016 e, com pouco mais de um ano de experiência na neve, já possui resultados de fazer inveja grandes nomes da modalidade. É dele, por exemplo, o recorde nacional no esqui cross-country paralímpico, desbancando Fernando Aranha, experiente atleta presente nos Jogos de Sochi. Na última etapa da Copa do Mundo, Cristian ficou na inédita quarta posição da prova de sprint

É um sonho estar nos Jogos. Tive boas performances nas últimas competições e a minha ideia é evoluir mais e melhorar as minhas marcas. A medalha é muito difícil, claro, mas não impossível. Imagine que para um menino de Rondônia estar na neve era impossível. E aqui estou eu



Aos 26 anos, Aline será a primeira mulher brasileira que participará dos Jogos Paralímpicos de Inverno. Sua vida esportiva começou aos 19 anos, quatro anos após sofrer um acidente de carro que a deixou paraplégica. Ela se destacou no atletismo de cadeira de rodas e participou dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Na sequência, resolveu aceitar o convite da CBDN e iniciou seus treinamentos no esqui cross-country. Com apenas um ano de experiência na neve, conseguiu o índice paralímpico e já figura no Top 10 de sua categoria nas etapas da Copa do Mundo e espera seguir evoluindo nos próximos anos.

A escolha do esporte de inverno surgiu como uma ideia de lutar por algo diferente, difícil, porém possível. Eu e o Fernando [treinador] percebemos que alguns atletas corredores em cadeira de rodas utilizavam o esqui cross-country para complementar seus treinos e migravam para a modalidade na temporada de neve. Então, entendemos que, além de um grande desafio, a prática do cross-country poderia contribuir muito para minha condição como atleta

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