Com Nicole Silveira, Brasil estreia na elite do Skeleton feminino

Nicole Silveira está evoluindo no Skeleton feminino (Divulgação)

A necessária e esperada renovação da equipe brasileira de Bobsled na abertura do ciclo olímpico dos Jogos de 2022 fez com que outra modalidade de gelo retomasse o status de protagonismo dentro da CBDG. Após ficar nos últimos anos com projetos pontuais, o Brasil voltou a ter um projeto voltado ao Skeleton - e pela primeira vez na história com uma mulher.

Nicole Silveira, ex-integrante da equipe feminina de Bobsled de Heather Paes, representou o país nas duas primeiras etapas da Copa América de Skeleton em Whistler, no Canadá, e Park City, nos Estados Unidos. Ela participou de quatro provas entre 7 e 20 de novembro. Agora, se prepara para a terceira etapa da competição em Lake Placid entre 30 de novembro e 1º de dezembro. 

Ela ainda deve participar da quarta e última etapa em Calgary, no Canadá, em janeiro de 2019. O objetivo é evoluir a cada prova dentro da modalidade para conseguir fazer voos mais altos e sonhar com uma inédita classificação olímpica. Não à toa que sua iniciação ao Skeleton começou em março, logo após a disputa dos Jogos de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul. 

No fundo, era uma escolha meio óbvia. O esporte sempre fez parte da vida de Nicole Rocha Silveira, 24 anos. Quando criança, ela fez aulas de dança, depois ginástica olímpica, jogou rúgbi e vôlei na escola. Com 14 anos, passou a jogar futebol e seguiu na modalidade até os 23. Conseguiu duas bolsas em universidades canadenses, onde atuou por dois anos, mas começou a fazer fisioculturismo e pegou gosto. Chegou a ficar em sexto lugar no campeonato nacional canadense. Até que uma coincidência a fez novamente trocar de atividade esportiva, desta vez com um pouco mais de adrenalina.

Para falar a verdade, nunca gostei muito de atividades de adrenalina, mas por algum motivo eu amei a sensação do bobsled e do skeleton. Também nunca gostei do frio e olha onde parei! Contudo, essa questão de ser um esporte radical me motiva muito. Muitos já mandaram mensagens dizendo que sou uma inspiração. Mas isso não é fácil. Tenho roxos do pé à cabeça, machuquei meu joelho, o nariz já sangrou, minhas mãos são cheias de calos e as canelas com feridas. Mesmo assim, não trocaria nada

A passagem para os esportes de inverno surgiu em 2017. Na época, Nicole conciliava as competições de fisioculturismo com o trabalho em uma loja de suplementos quando um ex-colega de equipe foi fazer compras e descobriu que ela era brasileira. Logo a convidou a fazer parte da equipe feminina de Bobsled comandada por Heather Paes. Lutaram até o último dia, mas a classificação aos Jogos Olímpicos de PyeongChang escapou por pouco. 



O fim da temporada, contudo, marcou um novo começo na carreira da atleta. Disposta a seguir nas modalidades de gelo, ela já planejava migrar para o skeleton ou até fazer o curso de pilotagem do bobsled. Foi quando Matheus Figueiredo, presidente da CBDG, a convidou a se tornar na primeira brasileira a buscar a vaga olímpica no skeleton.

A evolução de Nicole realmente é notável. Na sua primeira descida, em Whistler, ela fez o tempo de 1min57seg07, mais de oito segundos da primeira colocada. Na segunda vez, completou o percurso em 1min56seg59, sete segundos da vencedora. Depois, em Park City, conseguiu 1min48seg44, com seis segundos da vitória, e 1min46seg77, apenas cinco segundos da vencedora. 

Desde o primeiro dia que desci em Whistler, meus tempos e o push foram baixando e minha velocidade aumentando. Tive muitos atletas e treinadores me parabenizando por ter feito o que eu fiz pois não são muitos que conseguem

Dessa forma, de 18ª na primeira descida em Whistler, ela alcançou a oitava colocação em Park City e ocupa uma excelente sétima posição no ranking da Copa América de Skeleton feminino com 108 pontos (o ranking mundial só é divulgado após a abertura da Copa do Mundo, no próximo fim de semana). 

A evolução e adaptação rápida ao esporte a motiva ainda mais para o grande objetivo: disputar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Ela corre contra o tempo: tem apenas três temporadas para se adaptar à modalidade, aperfeiçoar a pilotagem e conhecer o máximo de pistas possível. Até porque em 2021 ela já deve somar os pontos necessários para o ranking pré-olímpico. 

Como se vê, a missão não é fácil. Contudo, podemos considerar que ficou "um pouco menos difícil" a partir deste ciclo olímpico. O COI (Comitê Olímpico Internacional) aumentou o número de classificadas no Skeleton de 20 para 25 competidoras, priorizando a igualdade de gênero. Dessa forma, são mais cinco cotas à disposição. 

Não quero fazer o mínimo para conseguir somente o 25º lugar. Mas é claro que ajuda ter mais vagas pois há muitos países que conseguem levar mais de um trenó. No final sobram mais cinco cotas para brigar entre as nações

O fato é que a possibilidade de uma vaga olímpica existe - o que pode abrir muitas portas no futuro. A questão financeira ainda pesa, sem dúvida. Cada descida em treino custa dinheiro, sem falar da necessária manutenção e cuidado com os equipamentos. Apesar de ser individual, o Skeleton está longe de ser um exemplo de esporte barato e a própria Nicole busca patrocínios para encarar o circuito internacional. 

Mesmo assim, ela sente-se pronta para encarar esse desafio e, principalmente, cravar seu nome na história do esporte de inverno brasileiro. A atleta sabe que os pioneiros são responsáveis não apenas pelo próprio desenvolvimento de sua carreira, mas também pela consolidação de sua modalidade no próprio país. É preciso alcançar bons resultados e ser um exemplo para novos interessados. 

Sinto uma responsabilidade muito grande em representar o Brasil no skeleton. Assumi o compromisso de abrir as portas para esta modalidade nova para o país, eu mesma e para todas as mulheres. Isso, sozinho, já é uma pressão enorme. Mas estas situações agregam valores na nossa vida e nos tornam fortes, resilientes e perspicazes às adversidades que vão aparecer neste início de treinamento

Enquanto isso, Nicole Silveira segue deslizando pelo gelo cada vez mais rápida e ágil. A diferença entre os tempos dela e das líderes é cada vez menor e a cada dia que passa possui mais confiança em sua capacidade. Nada mal para quem não gostava de esporte com adrenalina e tampouco do frio. 

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