Pioneirismo - Alessia Baldo

Alessia Baldo durante apresentação (Arquivo Pessoal)

O mês de setembro de 2013 ficará marcado para a história esportiva do Brasil pela vaga olímpica inédita na patinação artística no gelo com Isadora Williams. O que poucos sabem é que quatro anos antes uma outra patinadora brasileira foi a primeira atleta do país que tentou a vaga na modalidade. Alessia Baldo bem que tentou, mas não conseguiu antecipar a evolução natural. 

A ítalo-brasileira é a quarta personagem da série Pioneirismo, uma homenagem do Brasil Zero Grau ao Dia Internacional da Mulher e um reforço à campanha contra o fechamento da maior pista de patinação do Brasil (veja o link do abaixo-assinado à direita). Antes dela, já falamos de Simone Pastusiak, Stacy Perfetti e Stephanie Gardner. 

As três competiram pelo país antes dela e foram as responsáveis por apresentar o Brasil ao mundo da patinação artística no gelo, por assim dizer. Tanto que Alessia já vislumbrava notas maiores nas suas apresentações.

(Arquivo Pessoal)
Mesmo assim, a vaga olímpica realmente era algo difícil de ser conquistado naquela época. Da mesma forma que nos últimos Jogos Olímpicos, os atletas tiveram que disputar o Troféu Nebelhorn, na Alemanha, para brigar pelas últimas seis vagas restantes. Alessia ficou na 33ª e última posição, com 64.85 pontos na somatória das suas duas apresentações. A última vaga nas mulheres rodou até a 12ª posição.

"Foi um orgulho e uma emoção única para mim. Sabia que iria ser muito difícil. A competição era muito forte, mas tentei mesmo assim e fiz o melhor que pude naquele dia. Acho que são raros na vida os momentos que te deixam tão emocionada e eu tive a sorte de provar isso, graças à Confederação Brasileira", comenta Alessia ao Brasil Zero Grau.

Nascida em Varese, na Itália, em 17 de dezembro de 1989, Alessia morou dos quatro aos oito anos em Leme, no interior paulista. Possui dupla cidadania, mas foi aqui no Brasil que teve o primeiro contato com a modalidade. Durante um show de patinação no Holiday On Ice, ela se encantou com o esporte por envolver o ballet que ela praticava na cidade interiorana. 

De volta à Itália com oito anos, e querendo conhecer ainda mais aquela modalidade, fez com que sua mãe a levasse num rink de patinação. "Desde então me apaixonei por esse esporte e continuei. Naquela época nunca teria pensado em chegar até esse nível", prossegue.

Mas anos de esforço e dedicação começaram a fazer diferença na execução do programa de Alessia. O que parecia difícil no começo, ficou fácil. E foi assim até completar 17 anos, em 2006. A partir daí sua vida teria uma guinada que ela não esperava. 

Alessia Baldo estava cansada do ambiente da patinação italiana. "Quase deixei de treinar", confessa. Mas antes de tomar uma decisão tão radical, sua mãe e uma amiga apareceram com uma boa ideia: por que não contactar a Confederação Brasileira de Desporto no Gelo e tentar competir pelo país? "Pensei que poderia ser uma possibilidade para mim e para a CBDG. Eu os contactei e eles me aceitaram. Uma ideia maluca passou a ser uma das melhores experiências que podia viver e sonhar". 

Não faltaram experiências inesquecíveis para Alessia Baldo. Ela se recorda com carinho da estreia, no Four Continents de 2009. Pela primeira vez havia duas brasileiras presentes em um torneio oficial de patinação no gelo da ISU (Stacy Perfetti também estava presente). 

"Realizei e vivi meu sonho de criança. Era tudo novo e estava cercada das melhores patinadoras do mundo. Inesquecível", comenta. Ela ficou na 33ª posição, na frente da compatriota Stacy e de uma atleta neozelandesa. Conseguiu 26.36 pontos no programa curto, não avançando para o segundo dia de competição. 

(Arquivo Pessoal)
Houve outras competições nos meses seguintes, mesmo com a constante falta de apoio ("a confederação conseguia pagar apenas as competições maiores e não as de preparação. Os pais são os maiores patrocinadores"). Ainda em 2009 tentou a vaga olímpica, já citada. Em 2010, voltou ao Four Continents e terminou na 36ª colocação num total de 38 atletas com 24 pontos na nota. Dessa vez havia mais duas brasileiras (Elena Rodrigues e Simone Pastusiak). 

No mesmo ano competiu na Copa de Nice, na França (23ª) e no Golden Spin de Zagreb (25ª) - este último torneio responsável pela medalha de bronze de Isadora, a primeira do Brasil no cenário internacional da modalidade. Em fevereiro de 2011, esteve na Universíade de Inverno, na Turquia, e foi a 30ª colocada.

Ela contava com 22 anos na época e teve que tomar aquela decisão difícil para um jovem atleta brasileiro: seguir a carreira esportiva sem apoio algum ou optar pela faculdade e obter uma profissão estável. Da mesma forma que aconteceu com as outras atletas retratadas nesta série, Alessia optou pela segunda escolha. 

"Acima de tudo eu parei por causa dos horários. As únicas possíveis de treino são de manhã ou no inicio da tarde, bem nas horas de aula na minha faculdade. Precisei fazer uma escolha e sei bem como foi difícil.  Mas representar o Brasil foi uma ótima experiência e me fez crescer não só no âmbito esportivo, mas no pessoal também. Me sinto feliz e orgulhosa de ter feito parte dessa história". 

Parou de competir, mas não parou de patinar. Continua treinando sempre que acha uma folga na sua agenda. Está concluindo a faculdade e, veja só, virou professora de patinação na Itália justamente para transmitir a paixão que a levou a disputar uma vaga olímpica na patinação artística no gelo. E termina com um pedido:

"Gostaria também de continuar a ajudar a minha confederação a ficar cada vez mais forte e mais importante. Em qualquer momento, no que eu posso fazer, estou completamente à disposição da CBDG". Quem sabe aí não está o sonho de montar uma verdadeira seleção de patinação, não é mesmo?

Torcedora

Sem competir, Alessia Baldo virou torcedora do Brasil na patinação. Acompanhou de perto o Nebelhorh, que deu a vaga para Isadora e viu Luiz Manella chegar tão perto da classificação (ele ficou a duas posições após ter conquistado a quarta melhor nota no programa longo). 

"Foi uma ótima oportunidade para a Isadora e fico feliz que o Brasil tenha participado dos Jogos. Sinto muito apenas pela vaga que não conseguimos no masculino. Estávamos a um passinho! Luiz é um patinador muito dedicado e talentoso. Mas a patinação é feita de dias bons e ruins. Tem que estar no dia certo. Essa evolução não me surpreende muito. A CBDG só precisava de mais atletas e de mais visibilidade. Fico feliz em ver a minha confederação ganhar pontos no difícil mundo da patinação". 

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