Por que ninguém quer?

Imagem da Cerimônia de Sochi com Pyeongchang (Matthew Stockman/Getty Images)

Pyeongchang tentou por duas vezes até conseguir sediar os Jogos Olímpicos de 2018. Para 2022, o COI sorria, pois não faltavam cidades interessadas. Oslo, Pequim, Munique e Davos eram apenas algumas das que manifestaram publicamente a vontade em sediar o evento. Nomes de peso, realmente. Para o COI, era a certeza de que seria um processo tranquilo e que poderia apagar algumas manchas que aconteceram em Sochi e Rio de Janeiro, por exemplo. 

Porém, em menos de seis meses, uma leva de desistências colocou em xeque a credibilidade do evento e, consequentemente, o excesso de gastos que a cidade precisa arcar após vencer o pleito. Barcelona, a primeira a se manifestar, sequer levou adiante a intenção. Munique, outra que poderia se tornar a primeira cidade a realizar Jogos de Verão e Inverno, realizou plebiscito, viu a cidade rejeitar o evento e também descartou. Mesma situação de Cracóvia, na Polônia, na última semana. Estocolmo, na Suécia, também descartou por conta dos gastos. As duas últimas fizeram uma requisição formal ao Comitê Internacional. 

Por enquanto, quatro seguem adiante, mas duas cidades estão na corda bamba, por assim dizer. Lviv, na Ucrânia, por motivos óbvios: a instabilidade política do país evita fazer qualquer plano a longo prazo. Oslo, na Noruega, considerada grande favorita na disputa, não possui o apoio necessária do governo norueguês - considerado imprescindível para um megaevento esportivo. Portanto, não seria surpresa que, nas próximas semanas, as duas cidades também desistam da disputa. 

Sobraria, assim, duas cidades: Pequim, na China, e Almaty, no Cazaquistão. A capital chinesa, sede dos Jogos de 2008, sofreu críticas justamente pela questão ambiental - vital para os esportes de inverno. Já Almaty... bem, a cidade cazaque não é um primor quando falamos de direitos humanos e transparência. E o COI lembra-se muito bem dos problemas enfrentados em Sochi. 

Mas por que muitas cidades caíram fora do barco? Não sou especialista no assunto e muito menos tenho fontes ligadas ao COI. Mas lendo aqui e ali as principais matérias sobre o tema, e antenado com o contexto que o cerca, dá para traçar alguns pontos.

  1. Economia - "It's the economy, stupid". A frase dita James Carville, estrategista de Bill Clinton na eleição norte-americana de 1992, serve para explicar muita coisa, conforme me explicou muito bem meu amigo Walter Gomes Osório. No caso dos Jogos Olímpicos, as cidades caíram fora porque não podem se dar o luxo de gastarem bilhões de dólares enquanto o continente europeu vive uma grave crise econômica. A verdade é uma só: um evento como esse necessita de investimentos pesados, algo que a maioria dos países que se candidataram não tem condições de fazer hoje em dia. 
  2. Reputação - Londres se esforçou, fez uma edição belíssima e até reduziu os gastos previstos inicialmente. Mesmo assim, a conta doeu para o contribuinte: cerca de R$ 20 bilhões. Mas o pior ainda estava por vir: Sochi gastou R$ 50 bilhões para obras com suspeitas graves de superfaturamento e corrupção. Para Rio-2016, a estimativa inicial era de R$ 23 bilhões, mas deve ser superior a isso e com obras que seguem atrasadas. Duas edições que custaram para a reputação do COI e do próprio evento. Governos pensam duas vezes antes de associar a imagem aos cinco anéis.
  3. Rigor - a crise econômica aumentou o rigor fiscal e político de muitos países. Uma Olimpíada bem feita exige investimento em infraestrutura e a liberação de dinheiro não é tão simples assim em nações que passam por crise. Esferas públicas consolidadas exercem seu papel de fiscalizar e cobrar, algo que entidades esportivas não gostam (alguém se lembra da declaração do secretário da FIFA de que o "problema" brasileiro era a quantidade de poderes existentes?). Entretanto, surge a faca de dois gumes: o que resta são países com graves suspeitas no âmbito político e social e o próprio COI tem um nome a zelar. 
  4. Limitação geográfica - nos Jogos de Verão o comitê internacional pode levar o evento para qualquer cidade. O de Inverno, não. Pelo menos metade do programa exige que tenha neve e isso limita a escolha para cidades do norte da Europa e América do Norte. O pessoal brinca que, mesmo sem neve, o Brasil pensa em sediar. Mas pensando a fundo, cidades como Ushuaia, Valle Nevado e Las Leñas podem muito bem sediar uma edição. Mas aí surgem outros problemas: o interesse e a quantia que Chile e Argentina estão dispostas a investir em arenas de gelo (para hóquei, patinação e curling) e a necessidade de mudança no calendário. Afinal de contas, no hemisfério sul o inverno é em julho e agosto e, para quem não percebeu, seria simultaneamente com a Copa do Mundo de futebol. Dois eventos dessa magnitude não agradará em nada os patrocinadores. 

É claro que deve haver mais pontos, alguns até obscuros, mas ajuda a ter uma ideia dessa crise que a escolha das sedes dos Jogos de 2022 estão passando. Porém é apenas uma fase. Com edições bem feitas no futuro e a recuperação econômica muitos países estarão dispostos a encarar essa empreitada. 

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