Brasil 'invade' o Snowshoeing e quer ajudar a torná-lo olímpico

Murilo Ribeiro e Ana Maringoli Categoria júnior Snowshoeing Brasil
Murilo Ribeiro e Ana Maringoli, atletas da categoria júnior do Brasil no Snowshoeing (Arquivo/Rafael Rocha)

Certamente você já viu em algum filme ou desenho animado alguém colocar raquetes nos pés para caminhar na neve. Pode parecer estranho para nós, mas saiba que essa prática se tornou um esporte de inverno reconhecido internacionalmente. Trata-se do Snowshoeing, que inclusive conta com a participação de uma seleção brasileira.

Pela primeira vez, os atletas do país participaram do Mundial da modalidade, realizado também de forma inédita na América do Sul. A competição aconteceu no resort de Caviahue, na região da Patagônia, na Argentina, entre 1º e 3 de setembro de 2022. Ao todo, 13 competidores representaram o Brasil na competição - incluindo dois jovens que participaram da disputa júnior. 

A equipe não fez feio. Na corrida individual, Fabio Alonso foi o melhor atleta nos 12km masculino com 1h39min09seg - medalha de ouro para o argentino Javier Carriqueo com 57min10seg. Entre as mulheres, a melhor colocação do Brasil foi com Maria Fernanda May, 23ª com 2h06min12seg - ouro para Jennifer Britz, dos Estados Unidos, com 1h21min54. 

Na disputa júnior do Mundial de Snowshoeing, com uma prova de 5km, Ana Maringoli foi a quarta colocada de cinco competidoras com 1h01min19seg. No masculino, Murilo Ribeiro foi o 14º de 16 atletas com 57min12seg. Essa foi a primeira vez que o Brasil participou de uma prova júnior na modalidade. 

Mas foi na prova por equipes que o Brasil conquistou os melhores desempenhos. Entre as mulheres, o país levou o bronze, enquanto que no masculino ficou na quarta posição. "Foram bons resultados, dentro do esperado. Sabíamos que nossa briga seria por equipes. Mas daqui dois anos, queremos ser por Top 10 nas provas individuais", explicou Rafael Rocha, responsável por montar a seleção brasileira. 

A equipe brasileira no Mundial foi formada por: Murilo Ribeiro e Ana Maringoli (categoria júnior), Evana Dall'agnol, Kaline da Silva, Maria Fernanda May, Yasmin Rama, Anderson Freitas, Marcos Harlysson, Carlos Maringoli, Fabio Alonso, Luis Rafael Rocha, Renan Campos e Luiz Fernando Tubino. 


Quando surgiu a Seleção Brasileira de Snowshoeing? 

Disputar um esporte de inverno no Brasil não é fácil - competir em uma modalidade que sequer disputa Jogos Olímpicos é ainda mais complicado. Porém, da mesma forma que o Eisstocksport, um grupo de brasileiros começa a consolidar o país no cenário internacional da corrida de raquetes de neve e tenta levar a modalidade para o programa olímpico.

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A ideia de montar uma equipe partiu de Rafael Rocha. Ex-atleta e profissional de educação física, ele participava regularmente de corridas de rua e de trilhas. Em 2017, foi convidado para competir em uma prova de Snowshoeing na Argentina. Ao chegar lá, viu que havia outros brasileiros presentes. Resolveu, então, criar a primeira seleção nacional. 

A estreia foi no Sul-americano de 2019, também em Caviahue, que deu vaga ao Mundial de 2020, disputado no Japão. Por falta de recursos, os brasileiros não puderam competir. Com a pandemia, acabaram ganhando um ano a mais de preparação, aproveitando que o Mundial de 2022 seria na Argentina e facilitaria a logística e os custos dos atletas. 

Brasil assume papel de destaque no Snowshoeing 

A presença de brasileiros em provas internacionais rapidamente chamou a atenção da Federação Internacional da modalidade. Isso porque a entidade deseja entrar no programa dos Jogos Olímpicos de Inverno a partir de 2030. Assim, a filiação de países de diferentes continentes comprovaria o crescimento e relevância do esporte para o Comitê Olímpico Internacional. 


"A nossa relação é muito boa. Quando nos filiamos, eles mesmos afirmavam que procuravam os responsáveis para inscrever o Brasil. A presença de mais países conta pontos para entrar no programa olímpico. E nós votamos e participamos ativamente das discussões. A criação de uma prova por equipes no Mundial foi uma sugestão nossa, inclusive", afirma Rafael. 

O país é representado pela Associação Brasileira de Snowshoeing, criada por Rafael Rocha e mais dois atletas da modalidade. Contudo, a organização não possui patrocinadores e, portanto, não conta com recursos próprios para auxiliar no desenvolvimento esportivo. A participação em provas é custeada pelos próprios atletas. 

Bronze por equipes Snowshoeing Brasil
Atletas brasileiras conquistam o bronze por equipes no Mundial de Snowshoeing (Arquivo/Rafael Rocha)

Afinal, o que é o Snowshoeing? 

Basicamente, é uma corrida na neve. A diferença é que os atletas precisam utilizar uma raquete própria que ajuda a fazer o deslocamento na superfície sem o risco de afundar o pé ou escorregar. Vence aquele que cruzar primeiro a linha de chegada. As provas costumam ter entre 12 e 15 quilômetros na competição adulta e 5km na categoria júnior. 

Pode parecer uma distância curta, mas é um esporte bastante cansativo. O atleta precisa elevar bastante o joelho na corrida para não tropeçar com o equipamento no pé (que pode ter entre 200 e 800 gramas). Além disso, não há retorno de energia na pisada, o que demanda grande esforço físico. Portanto, quem compete nesse esporte normalmente participa de corridas de trilhas e ultramaratonas. 

Além da corrida individual, a partir desta temporada a modalidade incluiu a prova por equipes. Basicamente é a soma dos três melhores atletas do país na disputa e, quem tiver o menor tempo na somatória, é o campeão. 

A principal competição é o Mundial, realizado anualmente pela Federação Mundial de Snowshoeing (WSF, em inglês). Além disso, há provas específicas na América do Norte, Europa e Japão, além de eventos na América do Sul. Canadá, Estados Unidos, Espanha, França e, agora, Argentina são as principais potências do esporte. 

Marcos Harlysson Snowshoeing Brasil
Brasileiro Marcos Harlysson com a "ferrari" do Snowshoeing: essa raquete pesa menos de 300 gramas (Arquivo/Rafael Rocha)

Rafael Rocha sempre esteve perto de esportes de inverno

Ver Rafael Rocha envolvido com um esporte de inverno era praticamente uma obra do destino. Desde a infância, ele sempre esteve próximo de alguma modalidade. Natural de Amparo, no interior paulista, ele praticou o hóquei inline e era amigo de José Alexandre Guilardi, um dos principais atletas do país tanto no hóquei no gelo. 

Depois, já como atleta de Decatlo, ele treinava em Santo André, e era contemporâneo de Cristiano Paes, Rodrigo Palladino e Edson Bindilatti, que competiam no atletismo na região e formaram a seleção brasileira de bobsled nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, em Salt Lake City.

Mas um infortúnio o afastou de tentar a sorte nos trenós. "Eu era mais jovem do que eles na época, mas pensava em fazer a seletiva no futuro. Só que em 2003 eu tive uma lesão séria no tornozelo e me afastei de tudo. Segui como profissional de educação física e só retornei às competições de corrida em 2008", explica.

Hoje, à frente do Snowshoeing no Brasil, ele quer seguir os passos de seus conhecidos e colocar o nome do Brasil em mais uma modalidade de inverno - quem sabe até incluí-la no programa olímpico. 

Até onde o Brasil pode chegar? 

Atualmente, a Associação Brasileira tem uma lista de 44 atletas do país que já participaram de alguma prova da modalidade no continente americano ou na Europa. A ideia é expandir esse número por meio de uma seletiva de verdade. Rafael, inclusive, já recebe mensagens de pessoas interessadas e a meta é criar uma equipe nacional com os melhores. 

Evidentemente, isso passa pela estruturação administrativa do Snowshoeing no país. É necessário formalizar mais a gestão da modalidade, atraindo pessoas e entidades de outros estados, investir na comunicação e divulgação do esporte e reformular o estatuto para conseguir atrair patrocinadores que permitam levar para treinos na neve e disputar mais competições. 

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Até porque o potencial é enorme. "Em relação a outros esportes de inverno, temos uma vantagem porque precisamos de uma pequena adaptação. Quem faz corrida de rua é um pulo para a raquete de neve. E mesmo o treinamento pode ser feito aqui porque há terrenos parecidos que ajudam, como areia", comenta Rafael.  

Enquanto isso, ele e os demais atletas se preparam para os próximos desafios. O Mundial de 2023 ainda não tem sede definida, mas deve ser no Canadá - o que faz a competição ser no primeiro trimestre do ano que vem. Ou seja, com apenas seis meses de preparação e de captação de recursos financeiros, a ideia é manter a base desse ano para, a partir de 2024, alçar voos maiores. 

Equipe brasileira Mundial Snowshoeing
Integrantes da equipe brasileira no Mundial de Snowshoeing de 2022 (Arquivo/Rafael Rocha)

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